Thomas Tavoly
Fundador e 'Webmaster' da Equipa Amiga RC5
Julho 1999

A equipa Amiga RC5

Roberto: Thomas, você é fundador e director do site da equipa Amiga RC5. É sem dúvida a pessoa mais qualificada para nos explicar em que consiste a competição RC5.
Thomas: Em primeiro lugar, gostava de mencionar que sem os participantes, a comunidade Amiga e todas as pessoas que ajudaram de várias formas, esta iniciativa não teria tido o êxito que teve. O esforço da equipa Amiga RC5 é um esforço de comunidade não só para provar que o Amiga continua a ser uma força a ter em conta, mas também para demonstrar as fraquezas dos sistemas de encriptação correntes. Para isso, o objectivo da iniciativa é utilizar ciclos de computação de computadores ligados em rede para tentar descodificar chaves de encriptação 'fortes'.

Estamos assim a participar como equipa num esforço conjunto sem fins lucrativos da Distributed Net que é, de momento, a única instituição candidata ao prémio de 10,000 Dólares que a empresa de segurança RSA Labs está a oferecer para quem encontrar a chave de uma mensagen encriptada com o algoritmo RC5-64. Apenas como ponto de comparação, o NetScape só usa uma chave de 40 bits para efectuar transmissões seguras. A Distributed Net poderia descodificar esta chave numa questão de segundos.

Parte do interesse da iniciativa da Distributed Net deve-se ao sistema de classificação baseado na quantidade de trabalho levada a cabo por indivíduos e equipas, para além, logicamente, do prémio em dinheiro que se pode ganhar. No nosso caso, obter uma boa classificação significa maior publicidade do Amiga à indústria.

Todos os membros de cada equipa usam um programa cliente que corre em fundo com prioridade reduzida (de modo a não prejudicar o trabalho diário executado no computador), que vai buscar blocos de chaves a uma rede de servidores e neles analisa a existência de possíveis elementos da chave final, para depois enviar os resultados para posterior tabulação. Quanto mais computadores participam, mais trabalho se faz e maior a classificação da equipa a que pertencem os computadores. Na nossa equipa, aconselhamos os membros a usar pelo menos um Amiga, embora também possam usar outras plataformas.

Roberto: Nesta competição há muitas equipas a lutar para ganhar lugares no "Top 100". Como e porque é que decidiram criar uma equipa Amiga?
Thomas: Tenho-me interessado em encriptação e segui as competições DESChall e D.Net em pormenor até que apareceu um cliente deste tipo para o Amiga. Só por curiosidade, perguntei no IRC se havia alguém a usá-lo e acabei por descobrir algumas pessoas que também achavam interessante criarmos uma equipa. Depois, ofereci-me para montar um site para a equipa Amiga e tentar recrutar mais utilizadores. Portanto, tudo começou apenas por curiosidade e divertimento. Pouco tempo depois, cada vez mais pessoas se foram juntando, pelo que começámos a melhorar o aspecto do site e a implementar uma lista de membros e uma lista de correio, ao mesmo tempo que íamos subindo em flecha pela classificação acima.

Além disso, esta competição (inspirada na D.Net) é no fundo uma investigação sobre computação distribuída, ou seja, todo este esforço vai servir para criar um modelo que eventualmente vai ser disponibilizado como código livre. Este modelo vai poder ser usado por qualquer tarefa que exija grandes quantidades de ciclos de CPU, ligando-se directamente à rede de máquinas existente. Actualmente, só existe um cliente RC5 e algumas competições DES (outro sistema de encriptação muito popular), mas em breve haverão outras aplicações. Por exemplo, seria possível resolver problemas matemáticos ou jogos de xadrez com computação distribuída, ou talvez criar os efeitos especiais computorizados de um filme, ou mesmo ajudar cientistas a pesquisar DNA's para combater doenças. Seguindo esta ideia, estamos a pensar não só chegar ao fim da iniciativa RC5, mas também explorar as possibilidades da computação distribuída para o Amiga. Mas ainda não sei como as coisas vão evoluir. Vamos esperar para ver.

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O êxito da equipa Amiga RC5

Roberto: Encontrando-se agora no sexto lugar em mais de mil grupos, a equipa Amiga RC5 está a trabalhar muito bem. Como é que foi possível atingir este resultado, particularmente tendo em conta outras equipas que usam plataformas mais populares (e que têm sem dúvida uma base de utilizadores muito maior)? Talvez os Amigans sejam, em média, melhor informados e mais cultos, podendo assim tomar parte em massa numa competição como esta, aparentemente sem motivações definidas. Ou talvez sejam simplesmente mais unidos. Qual é a sua opinião?
Thomas: Acho definitivamente que é o resultado da coesão da comunidade Amiga. Os Amigas que participam são na verdade uma minoria muito pequena quando comparados com a enormidade de sistemas Windows e Linux em competição (talvez um por cento), mas como a maior parte desses sistemas estão fragmentados por diversas pequenas equipas, nós, como entidade individual, conseguimos obter melhores resultados com "menos" meios.
Roberto: De acordo com os registos diários, estamos a aproximarmo-nos cada vez mais depressa do quinto lugar. Como? Há mais pessoas a juntarem-se à equipa ou são mais pessoas a usar Amigas PPC? Ou talvez haja mais pessoas a trazer PC's para a nossa equipa? Na sua opinião, quais são as perspectivas a longo e médio prazo?
Thomas: A equipa começou com um cliente 68k e esta competição é um dos casos onde o que conta mais é poder bruto de processamento e não elegância do OS. É por isso que o forte crescimento de Amigas com processadores PPC na nossa equipa depois de ser lançado um cliente PPC causou um enorme impacto no nosso progresso. Além disso, muitos Amigans têm um Amiga e um PC moderno, às vezes até mais do que um, incluindo computadores no trabalho. É de notar que a contribuição bruta teórica dos Amigas é de cerca de 40% do total, o que demonstra bem o poderio dos PPC's. E, por fim, a equipa também tem crescido. Esperamos chegar aos 2000 membros no fim do ano. Quem sabe quais são os planos da Amiga, talvez um novo computador, já para não falar do OS 3.5 e das placas G3... Estas últimas em particular poderiam dar-nos outro avanço notório, assim como mais utilizadores se a plataforma conseguir ressuscitar. Mas se não acontecer nada, é possível que vários membros saiam da equipa. Portanto, a curto prazo diria que estamos a crescer devagar, mas a bom ritmo. A longo prazo... quem sabe. Talvez o saibamos daqui a mais duas semanas...
Roberto: Há outras equipas a crescer tanto como a nossa? Se também tiverem grandes avanços técnicos, talvez nos acabem por apanhar...
Thomas: Neste momento, não há nenhuma equipa com a nossa média de crescimento, embora no ano passado algumas equipas tenham tido saltos de actividade, uma das quais chegou mesmo a ultrapassar-nos. Não posso dizer que não vamos voltar a ser ultrapassados, mas temos um avanço considerável sobre as equipas mais próximas e estamos a ganhar terreno aos 5º e 4º classificados.

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Outras iniciativas: o programa SETI

Roberto: Recentemente, temos assistido a algumas discussões sobre outras iniciativas, como o programa SETI. O que acha que os Amigans deviam fazer aqui para obtermos mais publicidade? Pode também explicar-nos um pouco do que consiste o programa SETI?
Thomas: SETI é o acrónimo Inglês para Procura de Inteligência Extra-Terrestre. A ideia básica é a mesma que a competição RC5: há muitos dados e usa-se uma rede de computadores para dividir um problema e chegar à solução através de cálculo. A diferença é que o RC5 é um problema exactamente quantificável com uma solução individual conhecida que será encontrada num intervalo de tempo indeterminado, enquanto que o SETI é uma busca numa região mais ou menos definida do céu e da banda electromagnética com um resultado incerto, mas durante um intervalo de tempo conhecido (2 anos). Além disso, a D.Net é uma instituição sem fins lucrativos constituída por voluntários com motivações políticas e tecnológicas, enquanto que o SETI é constituído por cientistas patrocinados por empresas com interesses financeiros e científicos. Obviamente, o SETI é mais conhecido porque recebe muito mais atenção dos 'media', mas a iniciativa da Distributed Net tem um impacto muito maior nas nossas vidas, tanto a nível tecnológico como político, já que as hipóteses do SETI encontrar alguma coisa são praticamente nulas, mesmo sabendo que a probabilidade de existência de Inteligência Extra-Terrestre é bastante grande.

Por enquanto, o RC5 é o melhor meio de publicidade ao Amiga e às competições DES ocasionais (cuja última edição só durou 22 horas!). Embora o SETI seja muito mais popular, a sua infraestrutura não está desenvolvida a ponto de podermos causar o impacto que estamos a causar na D.Net, já para não dizer que correntemente não há nenhum cliente Amiga para o SETI. Além disso, o SETI é mais "guloso" e pode ser demasiado complexo para um Amiga normal (o cliente ocupa 15 MB de memória). Adicionalmente, a versão actual não é multi-tarefa. De qualquer forma, sempre podíamos contribuir com os nossos sistemas não-Amiga, mas perderíamos vantagem na RC5. De qualquer forma, sim, pensamos contribuir em muito mais do que a competição RC5, especialmente porque pode acabar a qualquer momento, assim que a chave for encontrada. Outro ponto a ter em conta é que a iniciativa RC5 não era do conhecimento público, mas como o SETI apela à imaginação das pessoas, atraíu a atenção dos 'media', levando ao aumento de interesse por competições deste tipo, como a RC5.

À medida que os computadores e aplicações se vão ligando cada vez mais em rede, este interesse vai continuar a aumentar, o que pode implicar que se o Amiga estagnar ainda mais, será eventualmente extinto. Por outro lado, um tal aumento pode levar a uma maior publicidade ao nosso computador e se eventualmente o Amiga de nova geração estiver equipado com este tipo de capacidade de ligação em rede, pode provar-se a melhor escolha para estas iniciativas.

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Como contribuir

Roberto: Depois desta conversa, alguns leitores podem querer juntar-se à equipa Amiga RC5. Qualquer pessoa pode participar ou só admitem utilizadores com Amigas muito rápidos?
Thomas: Qualquer pessoa pode participar desde que tenha um Amiga 68020 ou superior, já que é esse o requisito mínimo do programa cliente. Aliás, por mais lento que seja o seu Amiga, encorajamo-lo a contribuir, já que todos os bits contam e, nunca se sabe, até pode ser o seu computador o primeiro a descodificar a chave.
Roberto: Os interessados vão ter de puxar e instalar o cliente. É difícil? Pode indicar-nos alguns URL's com ajuda ou mais informações sobre a competição e a equipa Amiga?
Thomas: O princípio básico é muito simples e com o GUI Myzar também é bastante fácil de gerir, mas há muitas opções que podem ser complicadas para principiantes, pelo que é melhor ler o manual do princípio ao fim :) É claro, quem tiver alguma dúvida, pode obter ajuda no site, na lista de correio e por E-Mail.

Esta é a página da iniciativa: http://distributed.amiga.org (contém apontadores para a secção de programas, modo de utilização e instalação, basicamente tudo o que é preciso saber)

Se o site não esclarecer as dúvidas, é possível enviar uma mensagem para rc5@amiga.cistron.nl ou aderir à lista de correio (os pormenores para o fazer também estão no site).

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Acerca de Thomas

Roberto: Thomas, devo dizer-lhe que os nossos leitores são pessoas curiosas que certamente gostariam de saber mais informações sobre si. Quando é que comprou o seu primeiro Amiga? Qual é a sua configuração actual e para que usa o seu Amiga? Pode também falar-nos dos seus interesses ou passatempos?
Thomas: Quis comprar o Amiga assim que o vi comentado em revistas em 1986 e finalmente em 1988 obtive dinheiro suficiente para adquirir um A500. O meu Amiga 4000 que uso hoje em dia está equipado com uma CyberStorm MkII 060/50, 64 MB de RAM, disco rígido de 3.5 GB, CV64/3D e um monitor de 17", mais algumas outras coisas como placa Ethernet Ariadne e a placa série HyperCOM 4. Uso o Amiga para comunicações (E-mail/WWW/IRC, gestão de duas listas de correio), produtividade (PhotoShop/QuarkXPress com o ShapeShifter, vários projectos de páginas na Web), jogos (Doom, Heretic, e é claro o FreeCIV), programação (bem, só ARexx) e outras coisas. Para além do Amiga, adoro "heavy metal", gosto de fingir que toco guitarra eléctrica, adoro pizza, nadar, ir de férias na Hungria e dias de sol. Tenho 28 anos, sou solteiro, tenho estado ocupado com vários trabalhos IT nos últimos 5 anos, desde programação a 'webmastering' e vou provavelmente continuar a fazê-lo no futuro, a menos que me começe a fartar.

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A situação do Amiga

Roberto: E por fim, a pergunta inevitável: qual é a sua opinião sobre a situação actual do Amiga? Podemos esperar um futuro melhor?
Thomas: Sempre podemos ter esperança, mas para mim a situação não é nada boa :) Mas acredito que a filosofia Amiga, se não mesmo o próprio Amiga, pode ter muito êxito nas mãos certas, mas vai ser preciso tempo, muito trabalho e provavelmente mais reveses antes da situação se resolver ou não.
Roberto: Muito obrigado pelo seu tempo, Thomas. Divirta-se e que o Amiga continue a sobreviver!

Roberto Patriarca

Translator: Rúben Alvim (alvim_r@yahoo.com)
Proof-reader: Joel Alvim (mindwalker@mail.telepac.pt)

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